Entrei recentemente em um processo de elaboração de tudo o que eu vivi até hoje.
Devo dizer que não é tarefa fácil essa de pensar sobre a vida e sobre as escolhas que fazemos ou que deixamos ela - a vida - fazer por nós. Para mim, em especial, tem sido talvez a decisão mais árdua dos últimos tempos: me permitir sentir tudo o que eu tenho deixado guardado há tantos anos.
Sempre ouvi dizer que o tempo cura qualquer ferida.
Bem, isso não é exatamente verdade. O que talvez cure, e isso eu só vou poder dizer no futuro, é a análise dos acontecimentos e do que eles transformam em nós.
O tempo, por si só, ajuda a aceitar as cicatrizes. Ajuda a maquiar, a disfarçar a verdadeira dor. Mas assistir o tempo passar sem pensar sobre os "porquês" e sobre o quanto cada fato do dia nos atinge, é nada mais do que ele, o tempo, perdido.
Percebi que durante os meus 29 anos eu tenho desperdiçado esse tempo.
Vivi em uma luta feroz comigo mesma pra mostrar que eu sou forte, que eu sou diferente dos exemplos que tive e que eu posso sair ilesa de qualquer coisa que me aconteça.
Bem, isso também não é exatamente verdade.
Acho que essa foi a minha forma de continuar vivendo apesar de tudo e, embora tenha funcionado até aqui, é chegada a hora de tentar algo novo.
E a vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Basta abrir a porta, bastou eu me permitir e, aqui estão, todos os sentimentos que eu guardei em uma gaveta do meu pensamento. E diferentemente de comprovantes que desaparecem, esses sentimentos estavam bem ali onde eu deixei.
Agora a proposta é essa. Vou viver cada um deles. Vou chorar e rir com cada um deles no meu tempo de agora. Vai ser difícil, porque sei que vou estar sozinha. Ninguém vai entender se uma lágrima correr agora por algo que eu "superei" lá atrás. Mas eu vou entender quando ela secar.
E utilizando a metáfora que me disseram, talvez eu pague agora com juros a "fatura" dos sentimentos que eu negligenciei. Mas quando eu quitar essa dívida, vou estar no momento certo da minha vida. Vou estar onde eu quero chegar. E sendo assim, não me importo em usar todas as minhas economias da vida pra pagar essa conta.
Mas o engraçado disso tudo, é que agora que eu me permito sentir, que eu me permito ser fraca e admitir, e aceitar essas fraquezas, me sinto também mais leve.
É bom não ter que provar mais nada. É bom desmoronar.
Só assim posso me reconstruir ao invés de me consertar.