quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Era uma casa muito engraçada...

É tempo de mudança. Hora de olhar para a frente, virar a página e começar a escrever um novo capítulo das nossas vidas.
Mas hoje, vendo tantas memórias sendo guardadas em caixas, impossível não sentir a nostalgia que se encaixa nos espaços vazios dessa que foi a nossa casa.
Minha casa, meu lar. Minha referência por tantos e tantos anos.
Agora olho ao meu redor e já sinto uma enorme e avassaladora saudade de tudo o que vivi, de tudo o que vivemos.
Cada cantinho me conta uma história. E nesse momento de despedida, me apego às lembranças desse pedaço pequeno de mundo que já foi um dia meu universo completo.
Sorrio ao lembrar das madrugadas que eu passava com a Roberta, tagarelando sobre tudo e sobre todos, absolutamente alheia aos ovos que os vizinhos jogaram esperando que parássemos com o barulho.
Posso até ouvir o som da Rocka Billy ensaiando na antiga sacada. Do lado de dentro, pregada na parede, uma capa de caderno com a turma da Mônica vestida ao melhor estilo Rock'n Roll. Thiago Leiria, André Petrovick, Alcio e tantos outros se divertindo ao som de Susy Lelé.
Olho para a escada e lembro do Affonso, do Artur e do Gustavo correndo pro andar de cima para fugir de mim e da minha alergia ao salgadinho de pizza.
Corro os olhos pela sala e quase consigo ouvir as vozes dos piazitos inventando alguma forma inovadora de revelar o amigo secreto.
O sofá me traz a lembrança do colo e do cafuné da mamãe. 
Lá fora, a churrasqueira que já não é utilizada há tempos, traz o cheirinho do churrasco de domingo, que quase caiu no esquecimento.
Ah, casinha. Tu que já foi QG da equipe campeã da gincana do Bom Conselho...
Saudade da época em que fazíamos "concentrações" antes das festas e perdíamos a hora de sair.
Saudade de ser esquecida no colégio pelo Thiago e voltar na "cacunda", quando ele finalmente lembrava de me buscar.
Saudade da infância abraçada por esse bairro, por essa vizinhança cercada de bons amigos.
Mas é olhando para a mesa, que sinto meu coração apertar. Imediatamente ouço as gargalhadas sonoras tão comuns nos nossos almoços. Não importava o dia, estávamos sempre ali almoçando juntos, nós sete. Era a hora mais feliz do meu dia e a lembrança mais preciosa que vou guardar de ti, casinha. Almoçando  todos os dias aqui, nos reconhecíamos como família na mais ampla acepção da palavra. E confesso: Se me fosse dado o direito de reviver um momento do passado, só um, certamente eu voltaria àquela mesa em um dia qualquer entre 1990 e 2000.
Não é fácil te deixar para trás. Mesmo sabendo que o que vem pela frente vai ser muito bom, ainda sinto o vazio...
E talvez eu sinta ciúmes de quem vier a te ocupar, mas desejo que alguém possa aqui ser tão feliz quanto eu fui.
Agora é adeus. Essa que já foi a casa dos meus avós, a casa dos meus pais, a nossa casa... passa agora a ser só a casa da Benjamim. 
Obrigada minha amiga, por me acolher tão bem. Toda a sorte com os novos. 
Prometo te guardar para sempre na memória. E para que não sintas tanto a minha falta, deixo aqui também um pedacinho de mim.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O tempo que leva

Entrei recentemente em um processo de elaboração de tudo o que eu vivi até hoje.
Devo dizer que não é tarefa fácil essa de pensar sobre a vida e sobre as escolhas que fazemos ou que deixamos ela - a vida - fazer por nós. Para mim, em especial, tem sido talvez a decisão mais árdua dos últimos tempos: me permitir sentir tudo o que eu tenho deixado guardado há tantos anos.
Sempre ouvi dizer que o tempo cura qualquer ferida.
Bem, isso não é exatamente verdade. O que talvez cure, e isso eu só vou poder dizer no futuro, é a análise dos acontecimentos e do que eles transformam em nós.
O tempo, por si só, ajuda a aceitar as cicatrizes. Ajuda a maquiar, a disfarçar a verdadeira dor. Mas assistir o tempo passar sem pensar sobre os "porquês" e sobre o quanto cada fato do dia nos atinge, é nada mais do que ele, o tempo, perdido.
Percebi que durante os meus 29 anos eu tenho desperdiçado esse tempo.
Vivi em uma luta feroz comigo mesma pra mostrar que eu sou forte, que eu sou diferente dos exemplos que tive e que eu posso sair ilesa de qualquer coisa que me aconteça.
Bem, isso também não é exatamente verdade.
Acho que essa foi a minha forma de continuar vivendo apesar de tudo e, embora tenha funcionado até aqui, é chegada a hora de tentar algo novo.
E a vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Basta abrir a porta, bastou eu me permitir e, aqui estão, todos os sentimentos que eu guardei em uma gaveta do meu pensamento. E diferentemente de comprovantes que desaparecem, esses sentimentos estavam bem ali onde eu deixei.
Agora a proposta é essa. Vou viver cada um deles. Vou chorar e rir com cada um deles no meu tempo de agora. Vai ser difícil, porque sei que vou estar sozinha. Ninguém vai entender se uma lágrima correr agora por algo que eu "superei" lá atrás. Mas eu vou entender quando ela secar.
E utilizando a metáfora que me disseram, talvez eu pague agora com juros a "fatura" dos sentimentos que eu negligenciei. Mas quando eu quitar essa dívida, vou estar no momento certo da minha vida. Vou estar onde eu quero chegar. E sendo assim, não me importo em usar todas as minhas economias da vida pra pagar essa conta.
Mas o engraçado disso tudo, é que agora que eu me permito sentir, que eu me permito ser fraca e admitir, e aceitar essas fraquezas, me sinto também mais leve.
É bom não ter que provar mais nada. É bom desmoronar.
Só assim posso me reconstruir ao invés de me consertar.