Vinha ingenuamente acreditando na igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Fui capaz de discutir, argumentar, me enfezar a valer com quem ousasse me dizer que ainda existe sim diferença.
Mas, há alguns dias, me surpreendi com o seguinte pensamento: "Se eu fosse homem, provavelmente estaria melhor colocada no escritório..."
Ouvi um grito interno!
Mas já não adiantava, o raciocínio se formou na minha cabeça e agora não tem volta, não consigo mais defender minhas teorias antigas.
Homens são cúmplices uns dos outros. Trocam confidências, comentários sobre estagiárias gostosas, festas escondidas das namoradas, futebol. Eu até tento me enturmar. Conheço o vocabulário, cresci em minoria, rodeada pelas conversas masculinas dos meus irmãos e seus amigos. Ouvia até os comentários mais sujos, aqueles que eles não falam na frente de NENHUMA mulher, embora isso tenha sido no tempo em que eles também me viam como homem.
Posso discutir futebol, e sei a hora de calar a boquinha também. Mas hoje já sou nivelada como "fêmea" e meus comentários sequer são considerados nesse aspecto.
Amo ter vindo ao mundo no gênero feminino, mas detesto ser taxada. Reviro os olhos quando me dizem que algo que eu fiz é bem coisa de mulher. Não gosto do rótulo, não adianta.
Entretanto, devo dizer, que já me aproveitei também dessa condição (ui).
Tarefas bem difíceis me foram passadas e, confesso, usei todo o meu charme feminino (da época) para garantir a boa vontade de colaboradores de órgãos públicos.
E hoje, pensando em tudo isso, me deparo com uma realidade ainda mais revoltante. Se o fato de ser mulher já atrapalha as vezes, quando se é gorda, as coisas ficam quase impossíveis.
Meu esforço pra mostrar competência é dobrado, portanto me desculpem se preciso de um pouco mais de sono do que a maioria dos mortais.
Se uma mulher bonita fala, os homens em volta podem até não estar muito interessados no tema, mas prestam atenção pra ganhar pontos. Se ela pede algum favor, não desistem antes de conseguir atender, podem ser mesmo incansáveis.
Já a gordinha, ah essa sofre. Tem que gritar se quiser ser ouvida, e mesmo assim, não há garantias de sucesso. Se ela for competente, pensam: "também, ia fazer o que além de estudar?" Se ela sente fome, "a gorda não sai da cozinha". Se obtém êxito em uma tarefa, "devem ter ficado com medo". E se ela ousar falar a mesma língua dos homens, pronto, já virou um deles.
Por tudo isso, revi minhas prioridades.
Vi que não adianta dedicar 100% do tempo ao escritório. A academia nesse momento é fundamental. A gorda, embora grande, as vezes fica invisível.
E não me venha falar em igualdade, porque o homem gordo geralmente é o mais amigo do chefe.